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sente o cansaço de si da vida de tudo

Opinião  »  2011-11-10  »  Carlos Tomé

sacode os sapatos no capacho da entrada como quem tira de si o que se acumula de sujidade dos dias anteriores e entra em casa com a mesma desesperança com que saiu, recebe na cara o bafo quente e húmido do silêncio que vem de dentro, acende a luz e apaga o olhar por breves instantes até ver a claridade da sala os móveis inertes as janelas fechadas os sofás quietos o jornal aberto espalhado no chão as chaves pousadas na mesa, tudo imutável tudo parado como numa fotografia antiga como se o tempo não tivesse passado por ali como se tivesse feito a sua marcha implacável só lá por fora e tivesse poupado tudo lá dentro, só o cheiro agreste do bafio a faz pensar que a casa precisa de ar e abre as janelas para deixar entrar uma réstia de sol que ainda resta e com ela o quase fulgor da vida lá fora mas distante de si, como num filme a que assiste pousando o corpo num sofá e deixando a cabeça vaguear pelo enredo só então se senta e pousa o olhar fixo em nada, nada vê para além de si não consegue perceber o que a rodeia nada a exaspera nada a revela e tudo nela lhe é alheio como se tivesse sido longe que aconteceu como se tivesse ouvido outros dizeres de outra ficção e permanece em si um mal estar constante e desgastante e ao mesmo tempo um absurdo olhar para o que não consegue ver para o que havia antes o que enchia antes a vida e a fazia correr e deixar o sol entrar em si por todos os poros da pele, foi há três semanas que saiu de casa que saiu de si nunca mais conseguiu coragem para voltar ao local rever imagens suas conhecidas voltar a deixar entrar em si à bruta a lâmina penetrante da imagem do corpo dele balouçando preso numa corda e esta descendo de uma viga do telhado da garagem o corpo ainda quente o olhar já vítreo sem cor vaso de nada prenhe de vazio silenciado por vontade própria e sem que o previsse embora o temesse pois já há muito que o dinheiro nem chegava ao meio do mês e acumulava as contas da luz da água do gás do telefone da farmácia e mais a catadupa diária de maldades do governo e as prestações da casa dos cartões de crédito dos electrodomésticos da mercearia dos empréstimos bancários dos empréstimos dos familiares que se iam somando umas às outras sem parança somando sempre até lhes perder o controlo e ficarem as dívidas só dívidas e ele com toda a vergonha do mundo escondendo a verdade num sorriso amarelo e depois a empresa que fechou e o desemprego que veio e entrou sem ser convidado e torceu ainda mais a vida e deu uma volta inteira e rompeu tudo e tudo escavacou desesperou todas as coisas tirou-lhes o sentido tudo ruiu de repente como um castelo de cartas até deixar de saber de si até que a fixação de acabar com tudo floresceu na sua cabeça nela se instalou e o levou à garagem e à corda e ao vazio para sempre e ela ali especada a olhar para ele mas sem nada dizer e sem nada poder fazer para impedir o destino, agora entra na cozinha olha em redor e nada vê pois o olhar é ausente nada pensa sente a mesma desesperança dele a mesma impossibilidade de continuar sozinha a mesma impotência, quase maquinalmente acende os quatros bicos do fogão fecha a porta e a janela senta o corpo pesado numa cadeira sente o cansaço de si da vida de tudo e deixa que o odor espesso e volátil do gás a preencha lentamente até tomar conta de si até o olhar ficar vítreo pousado em nada e a respiração se torne suave lenta quase serena parada

 

 

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