Alunos ou burros de carga
Opinião » 2008-12-04 » Santana-Maia Leonardo
Nos últimos trinta anos, a escola foi usada, pelos sucessivos governos, para dar emprego ao maior número de pessoas, designadamente, professores, muitos dos quais sem quaisquer qualificações. Acontece que, findo o crescimento inicial provocado pela massificação do ensino e o alargamento sucessivo da escolaridade obrigatória dos quatro para os nove anos, começou-se a assistir a um decréscimo da população escolar, em geral (em virtude da baixa natalidade), e em escolas do interior, em particular (em virtude da deslocação das populações para os grandes centros urbanos). Ou seja, começou a haver, nalguns casos, mais professores do que alunos e, às vezes, nem mesmo alunos havia.
E como é que os governos resolveram a situação? Muito facilmente: aumentando a carga horária dos alunos e o número das disciplinas obrigatórias. Consequentemente, deixaram os professores de ser contratados por causa dos alunos e passaram estes a ser obrigados a ter mais horas lectivas e mais disciplinas para garantir o emprego dos professores.
Com isto caiu-se numa situação absolutamente absurda e insustentável. Hoje um aluno do 12º ano, tem mais 6 disciplinas e mais 25 horas lectivas do que há vinte anos; um aluno do 10º ano, tem mais 3 disciplinas e o dobro das horas lectivas; e um aluno do básico tem mais 6 disciplinas e mais 14 horas lectivas. Hoje, chegámos ao absurdo de ter alunos com mais de 40 horas lectivas por semana e 15 disciplinas (e a ministra já fala em mais uma disciplina: Educação para a Saúde).
É óbvio que todos os ministros que passaram pelo Ministério da Educação têm a perfeita consciência do absurdo da situação, assim como os sindicatos. Basta dizer que todas as reformas educativas levadas a cabo nos últimos vinte anos partiram sempre deste pressupost a necessidade imperiosa de reduzir a carga horária dos alunos. Só que, quando chega a altura de pôr as reformas em prática, todas elas acabam por aumentar a carga horária, em vez de a diminuir, como se propunham inicialmente. Ou seja, os sucessivos governos, quanto à política educativa, na hora da verdade, privilegiam sempre o aspecto político, sacrificando o educativo.
Porque, se a sua vontade fosse mesmo melhorar a qualidade de ensino, a disciplina nas salas de aula e combater o insucesso e o abandono escolar, qualquer Governo tinha necessariamente de começar por impor a redução dos horários lectivos dos alunos: 20-24 horas semanais e 6 disciplinas para o secundário e 28-30 horas semanais e 9 disciplinas para o básico (como era antigamente).
Em seguida, devia adoptar a recomendação inteligente do Conselho Nacional da Educação e acabar com as reprovações no ensino obrigatório, para que a avaliação dos alunos possa ser rigorosa e exigente, reflectindo as classificações o verdadeiro nível atingido por cada aluno.
E finalmente, devia, por um lado, avaliar o trabalho dos professores (que leccionassem) através dos resultados das suas turmas e da qualidade das suas aulas e, por outro, destinar os restantes professores (sem disciplinas para leccionar) à dinamização das actividades não lectivas, fazer o acompanhamento dos alunos e dar-lhes apoio fora das horas lectivas.
Só que isto é impossível de pôr em prática porque há demasiada gente inútil e incompetente a comer à conta do actual sistema, a começar no Ministério da Educação e a acabar nos sindicatos.
http://sol.sapo.pt/blogs/contracorrente
Alunos ou burros de carga
Opinião » 2008-12-04 » Santana-Maia LeonardoNos últimos trinta anos, a escola foi usada, pelos sucessivos governos, para dar emprego ao maior número de pessoas, designadamente, professores, muitos dos quais sem quaisquer qualificações. Acontece que, findo o crescimento inicial provocado pela massificação do ensino e o alargamento sucessivo da escolaridade obrigatória dos quatro para os nove anos, começou-se a assistir a um decréscimo da população escolar, em geral (em virtude da baixa natalidade), e em escolas do interior, em particular (em virtude da deslocação das populações para os grandes centros urbanos). Ou seja, começou a haver, nalguns casos, mais professores do que alunos e, às vezes, nem mesmo alunos havia.
E como é que os governos resolveram a situação? Muito facilmente: aumentando a carga horária dos alunos e o número das disciplinas obrigatórias. Consequentemente, deixaram os professores de ser contratados por causa dos alunos e passaram estes a ser obrigados a ter mais horas lectivas e mais disciplinas para garantir o emprego dos professores.
Com isto caiu-se numa situação absolutamente absurda e insustentável. Hoje um aluno do 12º ano, tem mais 6 disciplinas e mais 25 horas lectivas do que há vinte anos; um aluno do 10º ano, tem mais 3 disciplinas e o dobro das horas lectivas; e um aluno do básico tem mais 6 disciplinas e mais 14 horas lectivas. Hoje, chegámos ao absurdo de ter alunos com mais de 40 horas lectivas por semana e 15 disciplinas (e a ministra já fala em mais uma disciplina: Educação para a Saúde).
É óbvio que todos os ministros que passaram pelo Ministério da Educação têm a perfeita consciência do absurdo da situação, assim como os sindicatos. Basta dizer que todas as reformas educativas levadas a cabo nos últimos vinte anos partiram sempre deste pressupost a necessidade imperiosa de reduzir a carga horária dos alunos. Só que, quando chega a altura de pôr as reformas em prática, todas elas acabam por aumentar a carga horária, em vez de a diminuir, como se propunham inicialmente. Ou seja, os sucessivos governos, quanto à política educativa, na hora da verdade, privilegiam sempre o aspecto político, sacrificando o educativo.
Porque, se a sua vontade fosse mesmo melhorar a qualidade de ensino, a disciplina nas salas de aula e combater o insucesso e o abandono escolar, qualquer Governo tinha necessariamente de começar por impor a redução dos horários lectivos dos alunos: 20-24 horas semanais e 6 disciplinas para o secundário e 28-30 horas semanais e 9 disciplinas para o básico (como era antigamente).
Em seguida, devia adoptar a recomendação inteligente do Conselho Nacional da Educação e acabar com as reprovações no ensino obrigatório, para que a avaliação dos alunos possa ser rigorosa e exigente, reflectindo as classificações o verdadeiro nível atingido por cada aluno.
E finalmente, devia, por um lado, avaliar o trabalho dos professores (que leccionassem) através dos resultados das suas turmas e da qualidade das suas aulas e, por outro, destinar os restantes professores (sem disciplinas para leccionar) à dinamização das actividades não lectivas, fazer o acompanhamento dos alunos e dar-lhes apoio fora das horas lectivas.
Só que isto é impossível de pôr em prática porque há demasiada gente inútil e incompetente a comer à conta do actual sistema, a começar no Ministério da Educação e a acabar nos sindicatos.
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Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
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» Pedro Ferreira
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