Que a “televida” não venha para ficar, que regresse a vida “sem filtros” - ana lúcia cláudio
"O teletrabalho tem vantagens e o seu uso esporádico pode permitir ao trabalhador uma maior conciliação entre a vida pessoal e a laboral."
Quem me conhece, sabe que não sou a pessoa mais talhada para as novas tecnologias. Num misto de aptidão e gosto, ou mais propriamente dos seus antónimos. Estas linhas redijo-as primeiro com o recurso a uma caneta sobre uma folha de papel, naquela que para mim sempre foi, e será, a melhor forma de transmitir o que me vai no pensamento.
Aos colegas de trabalho agradeço a paciência para me ajudarem, sempre que se impõe a utilização de um programa informático mais avançado. Eu sei que tremem cada vez que acedo a um documento partilhado. Também sei que agradecem que os compense com outros “talentos” mais literários. Por tudo isto, e pelo que a seguir referirei, tenho muita dificuldade em apoiar os elogios a esta televida, em modo permanente ou por tempo indeterminado.
O teletrabalho tem vantagens e o seu uso esporádico pode permitir ao trabalhador uma maior conciliação entre a vida pessoal e a laboral. Mas, os contras deste modelo, que em regra transfere os custos para o trabalhador, e assume uma disponibilidade mais permanente de quem nunca sai (literalmente) do trabalho, não compensam os benefícios do mesmo. Fica prejudicada a socialização, o mudar de ares, as conversas cara a cara. Dizem os entendidos que trabalhar como respectivo cônjuge, e por isso com ele (con)viver 24horas sobre 24 horas, não é saudável para a relação. Por identidade de razões, trabalho e vida pessoal num mesmo espaço não será a longo prazo o mais adequado para a manutenção da sanidade mental do ser humano, que não foi feito para viver isolado mas numa relação diária de, e para, os outros.
E muitos destes argumentos são válidos para as crianças no que respeita à telescola e ao ensino à distância, um terror para as famílias que não conseguem acumular com as restantes funções que já assumem, a de professor dos respectivos filhos, e que vêem, assim, com apreensão, a possibilidade de a situação se prolongar no próximo ano lectivo. Esta ausência de contacto entre pares e com professores está a deixar marcas nas crianças. Conheço casos de meninos que deixaram de dormir serenamente e outros que começaram a roer as unhas como consequência da ansiedade provocada pela situação. Repare-se, por isso, na alegria das crianças e adolescentes do início e do fim do percurso escolar, os únicos contemplados com o regresso à escola, que puderam finalmente rever amigos e professores e habitar outros espaços para além das quatro paredes do seu lar.
As compras online já eram uma realidade e neste período ter-se-ão sobredimensionado. Mas, basta ver as filas nas lojas, na rua ou nos centros comerciais, nesta terceira fase de desconfinamento, para perceber como é diferente ver com os próprios olhos o que adquirimos sem o risco de enfrentar um decepção na hora de abrir a encomenda.
Já para não falar nos jogos de futebol à porta fechada no regresso do campeonato, medida bastante discutível quando comparada com outras realidades, aliás. Apoiar a equipa através de um écran, com os futebolistas a enfrentar estádios vazios e em silêncio, retira a essência a este “desporto”. Por algum motivo estas situações são, habitualmente, uma punição para um clube que “se porta mal”.
Consultas, palestras, formações, exercício físico, tudo on-line. E de forma esporádica e em determinadas circunstâncias, até tem a sua graça. Mas, mais uma vez, a frieza de ver o outro através de um écran ou de o ouvir com o recurso a um telefone não nos dá a mesma percepção que uma presença a três dimensões. Só ela permite vivenciar a realidade como ela é.
Início de Junho, três meses depois os cuidados mantêm-se, alguns receios do regresso aos tempos mais sombrios também, mas maior que isto tudo é a esperança de que esta liberdade não seja condicional, que voltem os sorrisos, os abraços, as conversas olhos nos olhos e principalmente uma vida sem filtros. Que aos poucos se cumpra a promessa que coloriu a quarentena: vai ficar tudo bem!
Que a “televida” não venha para ficar, que regresse a vida “sem filtros” - ana lúcia cláudio
O teletrabalho tem vantagens e o seu uso esporádico pode permitir ao trabalhador uma maior conciliação entre a vida pessoal e a laboral.
Quem me conhece, sabe que não sou a pessoa mais talhada para as novas tecnologias. Num misto de aptidão e gosto, ou mais propriamente dos seus antónimos. Estas linhas redijo-as primeiro com o recurso a uma caneta sobre uma folha de papel, naquela que para mim sempre foi, e será, a melhor forma de transmitir o que me vai no pensamento.
Aos colegas de trabalho agradeço a paciência para me ajudarem, sempre que se impõe a utilização de um programa informático mais avançado. Eu sei que tremem cada vez que acedo a um documento partilhado. Também sei que agradecem que os compense com outros “talentos” mais literários. Por tudo isto, e pelo que a seguir referirei, tenho muita dificuldade em apoiar os elogios a esta televida, em modo permanente ou por tempo indeterminado.
O teletrabalho tem vantagens e o seu uso esporádico pode permitir ao trabalhador uma maior conciliação entre a vida pessoal e a laboral. Mas, os contras deste modelo, que em regra transfere os custos para o trabalhador, e assume uma disponibilidade mais permanente de quem nunca sai (literalmente) do trabalho, não compensam os benefícios do mesmo. Fica prejudicada a socialização, o mudar de ares, as conversas cara a cara. Dizem os entendidos que trabalhar como respectivo cônjuge, e por isso com ele (con)viver 24horas sobre 24 horas, não é saudável para a relação. Por identidade de razões, trabalho e vida pessoal num mesmo espaço não será a longo prazo o mais adequado para a manutenção da sanidade mental do ser humano, que não foi feito para viver isolado mas numa relação diária de, e para, os outros.
E muitos destes argumentos são válidos para as crianças no que respeita à telescola e ao ensino à distância, um terror para as famílias que não conseguem acumular com as restantes funções que já assumem, a de professor dos respectivos filhos, e que vêem, assim, com apreensão, a possibilidade de a situação se prolongar no próximo ano lectivo. Esta ausência de contacto entre pares e com professores está a deixar marcas nas crianças. Conheço casos de meninos que deixaram de dormir serenamente e outros que começaram a roer as unhas como consequência da ansiedade provocada pela situação. Repare-se, por isso, na alegria das crianças e adolescentes do início e do fim do percurso escolar, os únicos contemplados com o regresso à escola, que puderam finalmente rever amigos e professores e habitar outros espaços para além das quatro paredes do seu lar.
As compras online já eram uma realidade e neste período ter-se-ão sobredimensionado. Mas, basta ver as filas nas lojas, na rua ou nos centros comerciais, nesta terceira fase de desconfinamento, para perceber como é diferente ver com os próprios olhos o que adquirimos sem o risco de enfrentar um decepção na hora de abrir a encomenda.
Já para não falar nos jogos de futebol à porta fechada no regresso do campeonato, medida bastante discutível quando comparada com outras realidades, aliás. Apoiar a equipa através de um écran, com os futebolistas a enfrentar estádios vazios e em silêncio, retira a essência a este “desporto”. Por algum motivo estas situações são, habitualmente, uma punição para um clube que “se porta mal”.
Consultas, palestras, formações, exercício físico, tudo on-line. E de forma esporádica e em determinadas circunstâncias, até tem a sua graça. Mas, mais uma vez, a frieza de ver o outro através de um écran ou de o ouvir com o recurso a um telefone não nos dá a mesma percepção que uma presença a três dimensões. Só ela permite vivenciar a realidade como ela é.
Início de Junho, três meses depois os cuidados mantêm-se, alguns receios do regresso aos tempos mais sombrios também, mas maior que isto tudo é a esperança de que esta liberdade não seja condicional, que voltem os sorrisos, os abraços, as conversas olhos nos olhos e principalmente uma vida sem filtros. Que aos poucos se cumpra a promessa que coloriu a quarentena: vai ficar tudo bem!
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![]() Num momento em que o sentimento generalizado sobre os chineses é de alguma desconfiança, preparo-me aqui para contrapor e dar uma oportunidade aos tipos. Eu sei que nos foram mandando com a peste bubónica, a gripe asiática, a gripe das aves, o corona vírus. |
![]() É muito bom viver em Torres Novas mas também se sente o peso de estar longe do que de verdadeiramente moderno se passa no mundo, enfim, nada de #Me Too, Je suis Charlie Hebdo, vetustas estátuas transformadas em anúncios da Benetton. |
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Recuemos no tempo. Entremos numa máquina do tempo e cliquemos no botão que nos leve até ao ano de 2001. Recordemos vagamente que em 2001: - Caíram as Torres Gémeas em Nova Yorque em 11 setembro. |
![]() Quando a internet surgiu e, posteriormente, com a emergência dos blogues e redes sociais pensou-se que a esfera pública tinha encontrado uma fonte de renovação. Mais pessoas poderiam trocar opiniões sobre os problemas que afectam a vida comum, sem estarem controladas pelos diversos poderes, contribuindo para uma crescente participação, racionalmente educada, nos assuntos públicos. |
![]() É e sempre foi uma questão de equilíbrio. Tudo. E todos o sabemos. O difícil é chegar lá, encontrá-lo, ter a racionalidade e o bom senso suficientes para o ter e para o ser. E para saber que o equilíbrio de hoje não é obrigatoriamente o de amanhã, muito menos o que era ontem. |
![]() Comemorou-se a 21 de Março o dia da floresta. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) resolveu assinalar a data disponibilizando 50.000 árvores gratuitamente à população. Quem as quisesse plantar, teria de se identificar, inscrever, levantar a árvore (até um máximo de dez árvores por pessoa) e, num prazo de 48 horas, declarar o local onde plantou documentando com fotos. |
![]() Hoje, como acontece diariamente, no caminho de casa até à escola, lá se deu o habitual encontro matinal entre mim e o Ananias, o meu amigo ardina. Trocámos algumas palavras, comprei o jornal e seguimos por caminhos opostos que nos levam à nossa missão do dia, o trabalho. |
![]() Durante décadas, todos os torrejanos ajudaram no que puderam o CRIT, uma obra social que granjeou a estima de todos os cidadãos e empresários, e foram muitos, que sempre disseram sim a todas e quaisquer formas de ajuda em prol da aventura iniciada em 1975. |