Aos 21 anos, João Francisco Delgado (Jota) prepara-se para fazer o percurso inverso ao que fazem muitos futebolistas sulamericanos que encontram em Portugal uma porta de entrada para o futebol europeu. Em Setembro, vai defender as cores da universidade de Bluefield, no Estado do Virgínia.

João Francisco Delgado, que na última temporada jogou pelo Alcanenense no campenato nacional de seniores, vai aventurar-se na liga universitária americana, viajando para o outro lado do Oceano Atlântico já no início de Agosto, altura em que começa a pré-temporada, logo no dia 3. Jota, como também é conhecido, vai procurar afirmar-se no mundo do futebol, mas esta viagem intercontinental tem também associada a sua condição de estudante universitário.

Tudo começou com o convite que lhe foi enderçado por parte de uma empresa que faz o “scouting” de jovens jogadores de futebol até aos 21 anos, universitários, e que não tenham contratos profissionais. “Viram-me jogar no Alcanenense e fizeram-me o convite para a uma captação. Arrisquei, porque era a última oportunidade, visto que já tenho 21 anos. Fiz um excelente treino e contactaram-me logo a seguir. Recebi um email que dizia que tinha entrado para a equipa”, contou ao JT o médio natural de Riachos.

O jovem jogador já conhecia a empresa quando jogava no U. Leiria, mas nessa altura o futebol estava a ser encarado quase como uma actividade profissional. “Sempre quis ser futebolista e, quem me conhece, sabe nem ligava muito aos estudos. Os meus pais foramme alertando e comecei a ver as coisas com outros olhos. Iniciei estudos superiores em desporto, enquanto joguei em Riachos e em Ponte de Sôr. Este ano, consegui concliliar os estudos enquanto jogava no Alcanenense”.

João Francisco começou por se matricular em Desporto, mas mudou de curso, para Publicidade e Marketing, frequentando o primeiro ano na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa no último ano lectivo. Acabou, há dias, os últimos exames. “Ainda dei aulas de natação em Alcântara e adorei trabalhar com os miúdos, mas não me via a fazer isto a vida toda”, confessou. “Mudei de curso e estou a adorar”, conclui.

Jota participou em alguns treinos e jogos, um dos quais contra a equipa de juniores do Sporting, em Alcochete. Era o único jogador dessa empresa que estava inscrito no campeonato nacional de seniores. Os restantes jogavam em escalões jovens.

A somar aos relatórios, os técnicos da empresa tiveram ainda acesso alguns vídeos das suas prestações no Alcanenense, que foram enviados a diversas universidades americanas, com quem tinham contactos. “Recebi umas cinco ou seis propostas e, depois de uma analise, decidi ir para o Estado do Virgínia, para Bluefield. Uma das propostas chegou de uma universidade de Nova Iorque, localizada perto do Central Park. Também recebi uma proposta de Chicago, de uma universidade que está entre as 50 melhores daquele país.

O valor da bolsa até era bom, mas o custo de vida é muito alto e preferi não exigir um esforço redobrado aos meus pais por um capricho meu”. Por isso, escolheu Bluefield. A universidade para onde vai prosseguir os estudos, e jogar futebol, possui um campus escolar muito grande. “Para ter um termo de comparação, o estádio municipal de Torres Novas é do tamanho do da universidade, além dos vários campos de treino que existem”.

As referências que tem dão-lhe boas perspectivas para evoluir, a nível desportivo e intelectual, considerando esta “uma oportunidade única para conciliar o futebol e os estudos. “Vou aproveitar a experiência para me formar, melhorar o meu inglês e, ao mesmo tempo, focar-me no futebol”. Jota ainda não sabe se tomou a decisão mais acertada, mas está convencido que sim.

“Quando temos mais do que uma opção, ficamos com algum receio de não tomar a melhor decisão, mas acho que aceitei a que me apresentou o melhor projecto”. A equipa de futebol da universidade de Bluefiled está na segunda divisão, mas o objctivo é subir ao principal escalão da liga universitária. A subida não está exclusivamente dependente de resultados desportivos, mas sim de um conjunto de aspectos que fazem as faculdades ocuparem lugares de destaque no ranking. São mais fortes as que apostarem em maior número de actividades desportivas e as que tiverem mais alunos desportistas.

Objectivo é chegar à MLS
A visibilidade que o futebol está a ter nos EUA - recorde-se que este ano foi nos Estados Unidos que decorreu a Copa América -, aliado à experiência de viver fora do país, foram factores decisivos para a escolha de Jota, que quer ser jogador profissional: “O campeonato universitário não se compara ao de Portugal e é fácil de perceber, se compararmos com o campeonato da NBA. As equipas muitas vezes olham para os jogadores dos campeonatos universários e levam-nos para os clubes. No futebol estão a fazer a mesma coisa”.

A chegada à MLS, que corresponde à primeira liga do EUA, “seria a cereja no topo do bolo”, considera. Mas não enjeitaria um convite para um campeonato sul-americano. O São Paulo (Brasil) é um clube que segue desde pequeno. “Nunca se sabe”, diz a sorrir. “A visibilidade que há no campeonato universitário é diferente da do distrital de Santarém”. À data da conversa que teve com o JT, Jota não sabia se partiria para esta aventura sozinho, ou se o acompanhará algum atleta luso, por intermédio da mesma empresa.