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Música: Siul Sotnas regressa com a Rádio Canibal - “Vocês sabem bem!”

Cultura  »  2023-05-30 

Ao segundo disco, o músico riachense apresenta-nos uma obra conceptual, à volta de um programa nocturno de autor, numa qualquer rádio pirata dos anos 80. Uma qualquer, não: Chamou-lhe Rádio Canibal. Nada a ver com dietas modernas, ou com alguma crítica ao mundo radiofónico, mas disso falaremos mais abaixo.

Comecemos pelos números: são 23 faixas nesta obra. Dirão alguns que é muita música, mas não é e nem todas são música. Essa é uma das surpresas deste segundo trabalho de Siul. Fiel ao seu conceito, este disco intercala canções com intervenções de um radialista com pronúncia do norte, e até um indicativo do programa existe. A génese do título vem de uma digressão de Boss AC, na qual muitos quilómetros foram feitos numa carrinha, cujo auto-rádio foi subtraído na Damaia. À falta de música nas longas viagens – principalmente, nas nocturnas - surgiu o slogan, “saído da cabeça do André, que, inspiradíssimo, montou um PA dentro da carrinha e começou a passar música e a falar para os ouvintes, que eram eu e o Cris Merg. É mais ou menos a história de ‘Um ribatejano, um algarvio de Lisboa e um brasileiro de Porto Alegre entram numa carrinha e…’ Foi aqui que começou a Rádio Canibal, revela Siul.

Para transformar a ideia em disco, era, diz o músico, “necessário pensar a coisa e não ser mais um disco com dez ou 12 canções debaixo das saias de um título. Era necessário que houvesse um fio condutor, um tema, um conceito que fosse diferente do lugar comum. Essa busca levou-me à origem, às frases do André na carrinha. Daí até chegar ao João Almeida foi um instante”. E que instante delicioso foi, pensamos nós, ao ouvir a Rádio Canibal. A pronúncia marcadamente portuense, as insinuações e as metáforas inusitadas deste radialista são um verdadeiro bombom neste sortido doce.

E depois há a música. Feitas as apresentações e dadas as boas-vindas (como em qualquer programa de rádio quê se preze) chega a primeira peça, que Siul dedica à sua amiga (e esposa de João Panhol) Maria Calado. “Não é por coincidência que esta peça se chama ‘Cidade Ventosa, 1 – Calado’. Parte do título é dedicado a Riachos, pelas suas recentes características climáticas, e a outra parte é uma dupla referência ao nome dela e a ser instrumental”. Há uma certa sonoridade a que nos transporta para o faroeste. Mas este é diferente, É um faroeste mais polido, uma espécie de alcatifa, em vez de terra desagregada, calhaus e ‘tumble weeds’ (ervas rolantes), uma espécie de novo Land Rover Defender. Mas há, ainda assim, um elemento brutalmente selvagem, que acaba por, no seu contraste com os restantes instrumento, ser quase uma linha de água: um delicioso baixo carregado de fuzz, que actuaria como quilha se olhassemos para ‘Calado’ como uma caravela.

‘O Cowboy da Lezíria’ é o senhor que se segue e é uma grande canção. E a frase que se segue é também ela grande: uma sátira à ideia pré-concebida do ser ribatejano, uma tomada de posição sobre a aculturação e os elementos impostos na cultura pelos homens do Estado Novo, um spaggetty western em modo musical, onde a guitarra acústica, a harmónica e uma bateria energética e ansiosa dão o traçado para o baixo dançar e a voz nos transmitir as imagens. Siul – ou Luís Santos – já nos habituou à ironia e à critica social, quer na música, quer no jornalismo satírico de ‘O Eirense’, que é o seu mais longo projecto artístico. “Sim, a sátira, e o humor em geral, sempre me fez mexer. É um elemento que está sempre presente na minha escrita, e sempre gostei de escrever. O jornalismo foi um caminho óbvio na minha vida, e quando descobri o Repórter Z, no jornal Riachense, acenderam-se luzinhas no meu cérebro. Foi nessa noite que decidi criar o Eirense. Há um dado curioso: alguém do jornal Público teve acesso aos três ou quatro primeiros números do pasquim. Meses, ou um ano depois, apareceu o Inimigo Público. Só de pensar que eu posso ter estado na origem desse outro pasquim, assim como os autores do Z estiveram na origem do Eirense, dá-me uma satisfação do caraças.” Gostamos de coboiadas!

Depois de mais uma ou duas entradas do radialista João Almeida, entramos no universo de Titan. É um super-herói urbano que tem problemas com antenas de televisão nos telhados, mas que está disponível, a qualquer hora, para salvar os cidadãos em apuros. É um roquenrole de guitarra, baixo, bateria e vozes, onde começamos a seguir as epopeias de um super-herói com problemas de gente normal, mas acabamos num genérico da Rádio Canibal, passando por uma estranha festa, à qual gostaríamos de ter sido convidados. Se, em mais de metade das canções deste disco não há solos de guitarra, em Titan há matéria suficiente para combater a tendência.

Talvez ‘Santa Irene’ seja aquele momento mais introspectivo neste disco. E também talvez seja aqui que encontramos a melhor da Rádio Canibal. Canção forte na dimensão sónica e na mensagem transportada pela letra. “Eu sou aquilo que tu vês em mim” é uma declaração de paz, uma forma de aceitar todas as criticas, sem criar antagonismos. “Como já diz um artista que admiro muito: “Com ignorantes não se conversa”. Por isso, yah, é como quiseres. Sou tudo aquilo que vês em mim, que dizes e pensas de mim. E nesta canção também há muito de mim, não só o que podem pensar de mim, mas também partes da minha própria perspectiva sobre eu próprio”, revela o cantautor riachense. E depois há também factos escondidos, como o próprio título, que remete para Santarém, cidade principal do Ribatejo, onde Luís passou os tempos da universidade e se terá perdido nos subúrbios da sua consagração. E tudo termina com um inspirado solo de guitarra. É que Luís Santos nunca se assumiu como um cantor, antes como um cantautor e guitarrista, cujas influências vão muito para além dos lugares comuns dos seus artistas favoritos.

O lado A do disco chega ao fim com ‘Cidade ventosa 2 – O Vazio’. Se Santa Irene é, potencialmente, o momento mais introspectivo, aqui estamos perante o momento mais sentido, apesar de, à primeira vista, ser a letra que menos sentido fará. Só que esta análise não é superficial. Começamos por escutar uma missa, que não é menos que a cerimónia fúnebre do pai do Luís. Seguimos com um momento intimista de guitarra acústica e voz, no qual há um discorrer de metáforas, todas elas apontando para uma falta, para o incompleto. Ou para o vazio deixado por alguém que se foi embora. Depois, o contraste da explosão e a entrada de todos os instrumentos, numa espécie de bipolaridade entre o calmo e o selvagem. Musicalmente é negro, pesado e dorido. Mas é do melhor que já se fez por estas paragens. O fim disto é um inesperado salmo, cantado pelo padre Pedro Dionísio.

O jingle da Radio Canibal abre as hostes do Lado B. Uma ‘coisa’ electro-punk-pink-pop, que reúne as vozes de Mário e Mia Santos (avô e neta), um beat, teclados manhosos e um baixo a segurar a malha. Chama-se ‘O indicativo da Rádio Canibal’ e foi, de acordo com Siul, “feito em quatro minutos e que contém um erro espectacular de concordância”, mas que não revela.

Depois desta entrada a pés juntos, outro momento inusitado: uma voz feminina irrompe, mas a conduzir a canção. É a Filipa Rodrigues, dos Orange Crush. É aliás toda a antiga banda de Luís Santos que toca neste ‘Sorriso’. É o resultado de uma tarde de minis, sumol e tremoços no café Relógio, na qual Luís prometeu escrever, gravar e lançar uma música para apoiar a Associação de Dadores de Sangue de Torres Novas. Saiu em single em 2022 e agora figura no disco. E faz sentido. Não só pelo que representa, mas também porque num disco que se assemelha a um programa de rádio, a heterogeneidade é um ponto a favor.

Agora entramos na fase do disco em que reconhecemos uma ou duas músicas que saíram em single nos últimos três anos. São elas ‘O eremita’, a ‘Janela Aberta’ e o ‘Monte de Gente’. Mas Siul não se limitou a descarregar para aqui os três singles. Totalmente remisturadas e remasterizadas, são as mesmas canções, mas soam muito diferentes. E melhor, até. Se em ‘O Eremita’ Siul fala da experiência pessoal da pandemia Covid, do desaparecimento de Pedro Barroso, da ascensão do Hitler de Loures, em ‘Janela Aberta’ faz uma recensão sobre as Aventuras de João Sem Medo, para onde traz personagens como Donald Trump, Jane Fonda, Fabrióleo, e outras que ainda não desvendámos… Já ‘Monte de Gente’ é uma colecção de disparates da sociedade contemporânea. Disparates à vista de todos, e que se mantêm porque são habituais.

E chegamos ao momento final da Rádio Canibal. ‘OHDQOD’ é sigla para O Homem Distraído que Observava Demais. É a tal contra-capa de que falámos ao início, um instrumental progressivo de quase oito minutos, com um curioso detalhe na parte final, que lhe confere um regime especial de ‘instrumental’. A explicação é simples: “Eu não sabia como havia de trabalhar esta música. Fui experimentado coisas, e a certa altura, a solução foi deixar ficar instrumental. A harmonia e a melodia eram fortes suficientemente para se assumir como uma peça de música sem vozes”. Mas depois aconteceu algo que tornou este instrumental um pouco mais do que isso. Um dos últimos desejos do pai de Luís Santos foi que o levassem à Nazaré. E assim foi feita a sua vontade. “Nesse dia, quando o meu irmão me contou que o levou à praia, escrevi as duas frases. Acabei por gravar essa voz no dia em que o Saraiva foi embora. Isso nota-se na última palavra que canto…”

A Rádio Canibal é um feliz segundo disco que muitos artistas não conseguem fazer. Siul fê-lo. Demorou, é certo. Mas foi por acidentes e obstáculos no caminho. É que Luís Santos escolheu o caminho das pedras. O disco pode ser comprado nos modos Digital, através da Plataforma do Paralelo 39, e CD, que pode ser encontrado a partir do final deste mês em varias lojas de música.

 

 

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