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"O festival Bons Sons dignifica a música portuguesa"

Cultura  »  2014-06-27 

Entre 14 e 17 de Agosto, muitos caminhos vão dar a Cem Soldos, aqui ao lado, aos vários palcos da 5.ª edição do festival Bons Sons. Quem o faz diz que se trata do maior festival de música portuguesa, quem lá vai confirma que é uma experiência única e diferente. Por trás do festival há um projecto cultural de intervenção numa aldeia que, como todas, resiste ao tempo. E há uma utopia, repartida por sonhos de um grupo de gente que tomou em mãos os bons sons de Portugal. Luís Ferreira, de 31 anos, designer de profissão, é o rosto desta aventura.

O Festival Bons Sons (FBS) assume-se como ”o maior festival de música portuguesa”. Esse desígnio tem que ver exactamente com o quê?

O primeiro festival de Verão de música integralmente portuguesa foi promovido pelo Sport Club Operário Cem Soldos, em 2006. Havia outros projectos do género, mas não tinham esse carácter de festival de Verão. Na altura, quando dissemos que íamos trabalhar apenas com a música portuguesa do presente, disse-se que isso seria impossível. Acabámos por beneficiar e por contribuir para essa dinâmica da música portuguesa. Fomos impulsionadores do movimento de onde tem nascido a nova música portuguesa.

Mas, entretanto, surgiram outros festivais com formatos semelhantes…

Sim, neste momento existem vários. No fim-de-semana do Bons Sons há outros festivais dedicados à música portuguesa mas, pela nossa marca, pela dimensão, quantidade de concertos, abrangência e carácter eclético do que mostramos, e pela quantidade de público que recebemos, consideramos que somos o maior festival de música portuguesa.

O Bons Sons ”apropria-se” da nova geração de músicos, mas também consagra figuras da música portuguesa…

No fundo, trabalhamos com música actual, a que se faz agora. O que nos interessa são as pessoas que estão a trabalhar hoje e são contaminadas por este contexto, tenham 40 anos de carreira ou integrem projectos mais embrionários. Queremos perceber o que hoje está a acontecer com a massa criativa em Portugal. De todos os músicos consagrados, talvez o Sérgio Godinho, que vem este ano, seja o mais consensual em termos intergeracionais. Mas o Fausto, que já trouxemos, é para os amantes da música uma figura incontornável. Contudo, é um pouco desconhecido para o grande público. Este ano, temos também nomes como o António Chaínho, que as pessoas conhecem como nome, mas se calhar nunca viram num concerto seu. A nossa plataforma não é apenas numa lógica de revelações, mas também de reconhecimento do trabalho efectivo destes músicos, que ainda estão a fazer coisas novas.

Qual tem sido a reacção dos músicos que têm passado pelo festival?

As reacções têm sido muito boas. O ”Venha ver a Aldeia” tem um efeito muito positivo, não apenas no público, mas também nos artistas. As pessoas sentem essa magia associada ao estarmos dentro da aldeia. É um projecto que dignifica a música portuguesa, não a explora, na medida em que os músicos recebem os seus honorários. Se os artistas não valorizassem este projecto, não valeria a pena. Alguma coisa estaria a correr mal.

Há uma grande quantidade de músicos e projectos musicais que se ofereceram para o cartaz, confirma?

Sim, este ano recebemos cerca de 1400 propostas para participações no FBS. O nosso cartaz não é elaborado numa lógica de concurso, mas as pessoas sentem a proximidade e lançam-nos as propostas. Percebe-se que a marca Bons Sons é bastante acarinhada no meio cultural.

Dessas 1400 propostas alguma integra o cartaz de 55 concertos?

Sim, algumas. Houve casos em era já suposto integrarem, mas houve quem se antecipasse. Foi o caso de Samuel Úria, que já estava no plano inicial. Ele é que não sabia! Todo o material que nos enviam é colocado numa base de dados, para percebermos o que está a acontecer. Ainda hoje estamos a receber propostas, mas o cartaz está fechado. Estas propostas só serão analisadas depois, já na ressaca deste festival.

Não teme que o festival, com esta densidade de concertos para os quatro dias, perturbe a própria capacidade de escolha por parte do público?

Pelo facto de, este ano, termos a concorrência de quatro ou cinco festivais dedicados à música portuguesa, no mesmo fim-de-semana, tivemos de dar um salto e, de certo modo, alinhar nas mesmas regras de outros festivais. Estávamos ter a concorrência do Alive e, de repente, apareceram cinco festivais de música portuguesa no mesmo fim-de-semana. Muitos deles com praia, com apoios camarários significativos e outras estruturas. De repente, ficamos nós que, apesar de estarmos há mais tempo, somos mais frágeis. Temos um financiamento próprio e estamos numa região que não se vê como região, embora o festival tenha essa dimensão regional. Esses 55 concertos surgem como resposta a isso. Mas não temos concertos em simultâneo em espaços abertos, apenas no auditório e na igreja.

Quer dizer que noutras circunstâncias o FBS teria um formato mais reduzido?

Se pudesse escolher, e num cenário em que não houvesse concorrência, preferia ter só 40 concertos. Dá para as pessoas absorverem um concerto, beber um copo, depois ver outro, mas achamos que é um mal menor a densidade de concertos. Sabemos que, ao nível da organização, os espaços mortos são mais rentáveis e que esta agenda é um pouco contraproducente para a própria dinâmica do consumo interno, porque as pessoas quase não têm tempo para parar e beber um copo, ou jantar com calma. E, vivendo nós de receitas próprias, isso é essencial.

Este ano não há um país convidado como tem acontecido noutras edições.

É o único efeito que temos resultante da crise. Com a dificuldade em arranjar financiamento, caiu a participação internacional. Mas achamos que não prejudica em nada a qualidade do festival. A ideia da parceria com outro país seria mostrar que trabalhamos a música nacional, mas não de uma forma fechada. No futuro poderá voltar a acontecer.

Esta edição vai determinar a continuidade do Bons Sons?

Este é o ano do tudo e nada. Estamos a fechar um ciclo com esta quinta edição, foi com isso que nos comprometemos. Achamos que, havendo outros festivais a trabalhar a mesma temática, é tempo de fechar o ciclo e de nos reinventarmos. E, reinventar-nos, pode ser tudo, menos não trabalhar com a música portuguesa e viver a aldeia: estes são os ”dogmas” do festival. O formato, os dias, a periodicidade, a forma como vamos trabalhar, tudo isso poderá mudar. Terá tudo que ver com o sucesso financeiro desta edição.

Entrevista de Élio Batista


Uma aldeia, muitas vontades, uma utopia

Quem são vocês? Quem organiza os Bons Sons?

Somos a associação Sport Club Operário de Cem Soldos e contamos com alguns convidados e amigos que se juntam à causa. Em conjunto, formamos uma equipa profissional ao nível das competências, tendo em conta a abrangência das várias áreas que se tem de abraçar. Mas todos somos voluntários, ninguém aufere qualquer tipo de vencimento. Queremos que o festival consiga devolver à aldeia o investimento que a aldeia tem dado ao festival.

Profissionais ao nível das competências: como assim?

Temos cerca de 55 voluntários a trabalhar para o festival, em formato pós laboral, e são esses que asseguram depois a sua realização. São pessoas que programam a componente técnica, são produtores de palco, são os responsáveis pela comunicação, serviços, etc. Temos uma equipa abnegada, a dedicar-se à aldeia e ao projecto.

O Bons Sons acontece numa aldeia, mas pretende ter uma dimensão muito abrangente…

Sim. Não há eventos deste género e com esta envergadura na região. O FBS é um projecto de cerca de 400 mil euros e precisamos que o turismo, as câmaras, a CIMT, percebam o valor desta marca e o que ela traz para a região. O Bons Sons deixa entre 750 mil a um milhão de euros na região.

Com que apoios institucionais conta o SCOCS?

Contamos com a câmara de Tomar e do Turismo do Centro. Estas duas entidades, juntas, equivalem a um apoio financeiro de cerca de 45 mil euros. Alguns privados também nos apoiam. Isto, num orçamento que ronda os 400 mil euros.

É fundamental que entidades públicas percebam o valor da marca Bons Sons. Essa percepção existe?

Estão a começar a perceber.

Ao fim de 10 anos?

Sim, é verdade. Este projecto tem uma identidade muito própria porque é a população que o quer realizar. Tem esse motor. Portanto, pode mudar o governo, pode mudar a câmara, pode mudar o vento, mas o projecto está cá, porque tem uma população que se identifica com ele e o constrói. Este festival tem efeitos sociais paralelos, desde as senhoras que fazem a lagartixas, aos putos que crescem com o festival e se vão formando com ele. Hoje, temos excelentes produtores em Cem Soldos, pessoas que estudam teatro, temos cinco bandas de originais. Tudo efeitos do festival. Depois, há os efeitos económicos numa região que tem 40 graus à sombra no Verão.

Essa matriz, da música portuguesa, faz do Bons Sons mais do que um festival de música?

O FBS é claramente um projecto cultural, e tem o que os outros procuram: identidade e envolvimento social. Por outro lado, ao sermos um festival, concorremos com outro tipo de produtos que não são a mesma coisa. O festival Rock In Rio é um projecto muito válido, mas é um projecto de comunicação de marcas, não é um projecto cultural. Mas usamos as mesmas ferramentas como principal atractivo, que é a música. Só que uns, numa lógica de entretenimento e outros, numa lógica cultural.

No fim de tudo, o que é que o festival devolve à aldeia?

Muitas coisas: uma, é o sentimento de pertença, que é muito importante nas aldeias. É a comunidade estar a trabalhar para um bem comum. Não vivo em Cem Soldos, só estou aos fins-de-semana. Os meus irmãos têm filhos e também estão fora, e esse é o processo normal numa aldeia em que a maioria das pessoas tirou cursos superiores. O Bons Sons conseguiu que os mais novos, como eu, voltassem a ter uma ligação à aldeia. Cem Soldos deixou de ser, apenas, a terra dos nossos pais.

Não teme que o envelhecimento demográfico trave essa ”utopia” de devolver a juventude à aldeia?

Acho que, acontecendo o Bons Sons, podemos inverter as coisas. É por isso que o fazemos. Baixar os braços não é solução. Acredito que o facto de trabalharmos projectos como este numa aldeia pode ser uma coisa bastante contemporânea e interessante. É utópico, de alguma forma, mas provamos que não é difícil fazer coisas. Esta zona tem um potencial enorme se a região trabalhar em conjunto. Torres Novas e Tomar não podem ser adversários, nunca.

Para além dessa dimensão cultural, o festival tem também uma componente social…

Sim, o Bons Sons tem dois projectos sociais para aldeia: o Lar Aldeia, um espaço para a terceira idade, e o CAAL – Casa Aqui Ao Lado, um projecto de residência artística. Embora ainda não tenhamos conseguido verbas, temos vindo a construir o saber fazer e a notoriedade para os projectos. Esperamos que este ano os lucros possam ser capitalizados nestes projectos sociais.

Como se percebeu que o festival poderia transformar aldeia? Imaginou-se logo assim ou pressentiu-se?

O Bons Sons nasceu da raiz do que já era feito pelo SCOCS, com outras iniciativas. Foi organizado da mesma forma que é organizado um arraial. A estranheza que causou para fora tornou a coisa mais exótica mas, na verdade, o festival foi trabalhado da mesma maneira como sempre fizemos outras coisas na aldeia. Como por exemplo as sardinhadas, que vamos fazer no final deste mês.

E como surgiu a ideia de fazer um festival?

Nos 25 anos do SCOCS, em 2006, fizemos um programa cultural intenso, de um ano inteiro. O desafio foi perguntar às pessoas o que gostariam de ter e fazer. Inaugurámos um centro de exposições, começou-se o projecto avós e netos, lançámos um projecto de parceria com a Universidade Lusíada para requalificação do espaço urbano e passou a dar-se um cariz mais profissional a outras iniciativas, como a mostra de teatro. Surgiu a ideia do festival e foi assim que nasceu a jóia da coroa.

 

Alguns nomes no Bons Sons deste ano

Sérgio Godinho / Amélia Muge / Samuel Úria / Ricardo Ribeiro / Norberto Lobo / Noiserv / Gaiteiros de Lisboa / Campaniça Trio / JP Simões / Gisela João / Capicua / Memória de Peixe / Osso Vaidoso / António Chainho / Galandun Galandaina / A Presença das Formigas / Tocá Rufar… e muitos outros.



 

 

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